terça-feira, 4 de junho de 2013

Demonstrações silenciosas


Às vezes é difícil entender os outros. É difícil porque nos baseamos, ao olharmos para eles, na nossa maneira de olhar o mundo. Esquecemos que cada um é um ser singular, com as próprias ideias, sentimentos e jeito de ser. Eu confesso que demorei a entender o Jorge, marido da minha querida irmã (Cristiana). Ele não era muito de demonstrar afeto, não abertamente do jeito que “eu achava” que era o ideal e aí eu ficava pensando: “porquê será que ele é tão caladão e fechado assim?”. E com o passar dos anos esse meu conceito foi se dissolvendo e, foi justamente no dia em que ele morreu, que eu entendi tudo.

O jeito do Jorge demonstrar afeto era muito mais autêntico e verdadeiro do que palavras soltas ao vento. Ele nos agradecia e demonstrava o que sentia nos oferecendo as coisas que ele realmente amava fazer, como um belo de um frango caipira e muitos outros pratos, que ele preparava como ninguém! Ele vivia nos chamando pra almoçar na casa dele e, com o tempo, eu pude perceber o seu olhar de satisfação vendo a gente saborear as delícias que fazia. Era visível o contentamento! 

O meu jardim também ele adorava cuidar, tinha tanto jeito com a terra que tudo que plantava nascia que era uma beleza! Hoje no sítio onde eu moro temos várias árvores frutíferas plantadas pelo Jorge, um pedacinho dele que teremos até o fim de nossas vidas.  Demonstrações silenciosas e originais.

Uma grande lição pra mim. As pessoas se doam do jeito que elas sabem, do jeito que podem, do jeito que são... e eu, apesar de toda visão limitada, aprendi com ele que o bonito da vida é mesmo a gente aceitar os outros do jeito que são e descobrir o quanto são verdadeiras e importantes as infinitas e imperceptíveis formas de amar.

E pensando nele, em todas suas qualidades e nesse jeito simples de amar, escrevi essa reflexão, no dia em que o Jorge nos deixou:

... “Mas o que é uma vida bem vivida afinal? Talvez seja criar galinhas caipiras, patos e gansos com tanto amor como se fossem gente, fazer mudas de árvores com uma habilidade admirável que não tem pé que não cresça, amar a terra, cuidar da terra... plantar e colher com sucesso. Talvez seja cuidar dos filhos para que eles cuidem de nós, com amor e dedicação, até o fim... ter muitos amigos que nos amam, ter um trabalho pra se dedicar com afinco... adorar pescar... amar cozinhar e fazer um frango caipira tão gostoso que ninguém faz igual... saber escolher uma companheira que na dificuldade vai estar do seu lado pro que der e vier, até o último suspiro... Talvez seja gostar de tomar uma "pinguinha", porquê não?... Talvez seja morrer em paz por cumprir sua missão nesse mundo, rodeado pelos filhos, esposa, mãe, amigos e todos que o amam, mesmo que não seja fisicamente...


O Jorge nos deu um "até breve"... morreu sereno, sem sofrer, rodeado pela família e amigos. Em paz! 

Se despediu da vida bem vivida... sem espaço para nenhum "talvez".

Agradecemos a todos pelas orações, atenção e carinho”.


Obrigado por tudo, Jorge!